Fui criada no mais belo de todos os jardins.
Bem no meio. O terreno mais fértil e esplendorosamente bonito que uma árvore poderia
pisar. É certo que por lá também foram criadas outras árvores. Eram formosas.
Cada uma com sua harmoniosa singularidade. Obras perfeitas. Divinas. Eu no
centro. Rodeada. A mais bela.
De imediato, recebi uma
imensa responsabilidade. Ninguém poderia comer dos meus frutos. O dia em que se
desfrutasse de algum deles, morreria. Poderia se alimentar de qualquer outra
árvore. Menos de mim. Logo eu que produzia os frutos mais lindos e desejáveis.
Alguém poderia estar se perguntando. Mas não eram os melhores? Meus caros,
entendam o seguinte, ordens são ordens.
Dia
ensolarado. Um casal lindo passou por mim. Não tinha visto nenhum ser humano
até aquele momento. Belíssimos, os dois. Estavam cansados. Com fome. Pararam
debaixo de mim. Olharam. Lembraram da ordem. Foram para a minha amiga do lado.
Comeram. Foram embora. Todo dia. O mesmo caminho. Sempre ao pôr-do-sol.
Numa tarde, porém, eles
receberam uma visita. Percebi que, depois daquele dia, já não me olhavam como
antes. Principalmente a mulher. Fiquei intrigada. Nunca vou esquecer o dia em
que eles vieram com uma passada diferente. Meus caros, eles poderiam ter
escolhido qualquer outra árvore do jardim. Qualquer. Mas exatamente naquele
dia. Primeiro, a mulher. Depois, o homem.
Eu quis dizer pra eles.
Parem. Não façam isso. Como eu queria ter voz para falar. Não comam. Não comam.
Vocês vão morrer. Como eles não caíram duros na hora. Não entenderam o perigo
que tal ação representava pra eles. Em vez disso, correram. Foram se esconder.
Pegaram as folhas da minha amiga. Até que ouviram uma voz.
Eles não moram mais
aqui. Não sabemos onde estão. Dizem que lá as árvores não são como as daqui. Nós,
do jardim, ainda somos as mais belas. A produzir os melhores frutos. As de lá, invejosas,
contaminadas, dizem que não. Nunca mais os vi. Espero reencontrá-los um dia.
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